Quantcast
Channel: Comentários em: ECOS: 2. Wittgenstein e Heidegger
Viewing all articles
Browse latest Browse all 10

Por: Aires Almeida

$
0
0

José, cá continuamos a martelar na mesmíssima tecla.

Eis alguns exemplos:

Dizes: «O meu ponto era que até alguém como Scruton reconhece que Heidegger tem momentos de verdadeira penetração filosófica»

Pá, pela enésima vez me obrigas a repetir o que disse desde o princípio: não é isso que está em causa e parece-me claro que não estamos a discutir se Heidegger tem ou não momentos de penetração filosófica. Já aqui disse e repito que mesmo filósofos menos bons podem ter ideias filosoficamente interessantes. Não percebo por que insistes em desviar a discussão.

Dizes: «quando eu disse que tu me disseste para o ler, não te estava a criticar de modo algum».

OK, eu sei. Simplesmente não disse para leres seja o que for. Só isso.

Dizes: «habilmente falaste da crítica de Rorty ao livro de Soames (que, por acaso, está invulgarmente boa), mas esqueceste-te de mencionar P.M.S. Hacker (cuja opinião considerarás relevante)»

Não aqui habilidade alguma e não me esqueci seja do que for. Não referi o Hacker simplesmente porque não o conheço. Portanto, não posso considerar a sua opinião relevante nem irrelevante. Mas mesmo que o Hacker diga o que sugeres, que diferença faz? Já agora, também não conheço o Christopher Pincock (ou quererás dizer Peacock?) nem o Michael Kremer. Sinceramente, o meu tempo não dá para tanto.

Dizes: «Dreyfus foi tão influente, que tem um artigo na Wikipedia só dedicado à sua crítica ao programa de inteligência artificial (quantos críticos do mesmo programa é que podem dizer o mesmo?).»

Estás mesmo a falar a sério? Pá, se a tua referência é a Wikipedia, então estão explicadas muitas das coisas que dizes. Custa-me a acreditar que tenhas a Wikipedia em grande conta, pois em termos científicos é algo que ninguém se arrisca a citar sequer. Tu próprio poderias ter escrito o artigo da Wikipedia sobre o Dreyfus a dizer tudo isso, caso lá estivesse a faltar. A verdade é que nem sequer se sabe quem são os autores dos artigos da Wikipedia. Mas adiante.

Aproveito para dizer que a IA é uma área que não acompanho grandemente. Mas não deixa de ser surpreendente que o longo artigo sobre IA do Companion to Philosophy of Mind, do Samuel Guttenplan, no qual se faz um historial da discussão filosófica sobre o tema, não refira uma única vez o Dreyfus. Pois, deve ser caso raro, dirás. Só que vais ver o artigo, também sobre IA, no gigantesco Companion to Cognitive Science, de William Bretchel e George Graham e, mais uma vez, nem uma referência a Dreyfus. Mas lá estão referidos o Searle e outros. Mas se tu dizes que estes é que estão mal informados, ok.

Seja como for, eu não neguei que o Dreyfus tenha dado contributos para a discussão, nem sequer que esses contributos não sejam importantes. Mais uma vez, o que disse é que Dreyfus não é uma grande referência assim tão importante na filosofia contemporânea e que, a parte este aspecto, ele tem-se dedicado sobretudo à exegese heideggeriana. E isso veio a propósito de Heidegger ter ou não influenciado de forma vincada a discussão filosófica entre os grandes filósofos posteriores.

Dizes: «Seja como for, do facto dos melhores filósofos hoje serem da tradição analítica, não se pode inferir que Heidegger seja um mau filósofo.»

Mas quem inferiu uma coisa da outra? Claro que não pode, nem eu fiz tal inferência. Vamos ver: eu apenas me limitei a refutar o teu argumento de que Heidegger foi muito importante para a discussão filosófica subsequente, dado que desfiaste aí uma quantidade de nomes influenciados por ele. Apenas mostrei que a discussão filosófica tem tido como principais protagonistas outros nomes, que não esses. Protagonistas que filosofam quase como se Heidegger não tivesse existido.

Dizes: «O Michael Dummett tardio, no seu último livro, falou de várias coisas que ele achava que tinham de ser feitas para mexer a filosofia para a frente. Entre elas incluía-se perceber melhor as relações entre Frege e Husserl, tentar que a tradição analítica explorasse o que ocorreu na Continental e vice-versa»

Mas a discussão não é sobre Heidegger? Estás a fugir constantemente ao assunto. Aliás, a discussão até começou a propósito de Heidegger e de… Wittgenstein.

Já agora, que falas nisso, o melhor acesso ao pensamento dos mais importantes pensadores continentais ainda se encontra em livros escritos originalmente em inglês por autores de formação analítica. Parece que os analíticos estão a fazer bastante mais pela compreensão dos continentais do que o inverso. Veja-se, por exemplo, o Brian Leiter sobre Nietzsche e os exemplos que tu referes sobre o próprio Heidegger.

Para terminar e não voltarmos ao mesmo:

Heidegger pode ter tido ideias filosoficamente interessantes?

– Sim, claro que pode.

Heidegger é um filósofo muito popular?

-Sim, é.

Heidegger é referido por muitos outros filósofos?

– Sim, é.

Tudo isso mostra que Heidegger é um grande filósofo?

– Não, não se segue tal coisa do que foi dito atrás.

– Heidegger influenciou de forma evidente a discussão filosófica contemporânea (na metafisica, na epistemologia, na lógica filosófica, na filosofia da linguagem, na filosofia da mente, na ética, na filosofia da ciência, na filosofia prática)?

– Pode ter dado aqui e ali alguns pequenos contributos, mas a sua influência não é compatível com o estatuto de grande filósofo.

E acho que tudo isto é factual.

Isto assim fica um pouco penoso. Seria de esperar que a discussão avançasse e não andássemos aqui às voltas a esclarecer o que cada um disse. Acho que não é assim tão difícil compreender o que cada um de nós diz. Mas ok, no meio de tanto nome e de tanta referência é natural que nos percamos um pouco.


Viewing all articles
Browse latest Browse all 10